Relato do encontro “Texto e imagem nas narrativas - os modos de leitura das imagens”
No
dia 29 de outubro, aconteceu o último encontro do ano, do Grupo de Pesquisa em
Narrativas Midiáticas (NAMI/Uniso/CNPq). A palestrante convidada, Profa. Dra.
Luciana Pagliarini, integra o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura, da Universidade de Sorocaba.
A
Profa. Dra. Luciana, que lidera o Grupo de Pesquisa em Imagens Midiáticas
(GPIM), também pertencente à PPGCC - Uniso iniciou sua fala explicando que o
tema de sua apresentação estava relacionado a sua tese de doutorado.
Ao se
deparar com a dificuldade com que os professores da escola em que foi
coordenadora possuíam em trabalhar com livros didáticos do ensino fundamental,
Luciana transformou a inquietação profissional em pesquisa acadêmica.
Relacionando em sua pesquisa palavra e imagem, buscou por meio das categorias
peirceanas, juntamente com os fundamentos de Lucia Santaella, analisar as
narrativas e imagens inseridas nos livros infantis.
Elucidando
sobre a teoria da Semiótica de Charles Sanders Peirce (1839-1914), a palestrante
esclareceu que na teoria peirceana existem três categorias distintas:
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade.
A
primeiridade está diretamente relacionada às sensações, ao momento
contemplativo, à qualidade (cores, cheiro, textura etc.) do que é observado.
A
secundidade está relacionada à observação pela qual o olhar distingue os
existentes e as coisas passam a ter nomes, o sujeito passa a discriminar o que
observa.
Na
terceiridade é por meio do raciocínio que o sujeito passa a interpretar o que
observa, esse olhar está embebido de ideologia e de consciência.
A
professora ressalta que as três categorias não existem de maneira separada, ou
seja, não há uma categoria pura.
Para
exemplificar cada categoria, Luciana utilizou poemas dos heterônimos de
Fernando Pessoa. Assim, para elucidar sobre a terceiridade:
“Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses” [...]
Ricardo Reis
O uso
dos poemas remeteu aos presentes a problemática da abordagem escolar, que
muitas vezes pede aos alunos que interpretem e expliquem essas narrativas. Esse
tipo de abordagem impede que o aluno viva a experiência do poema, que não
possui uma interpretação que possa ser considerada “certa” ou “errada”.
Sobre
as relações semânticas das palavras e imagens nos livros infantis, Luciana
aponta que elas podem interagir de três maneiras:
Na
redundância a imagem condiz com o texto. Por exemplo, se o texto diz: “Era uma
vez uma garotinha de capa vermelha”, as imagens reproduzem a mesma narrativa.
Quando
há complementariedade, o texto e a imagem possuem relação, entretanto outros
elementos podem surgir.
Quando
há à discrepância o texto não condiz com as imagens e vice-versa.
Por
meio da leitura do livro A bota e a enxada: certos contos italianos, dos
autores Katia Canton e Luiz Paulo Baravelli, a palestrante convidou a todos a
imaginar as cenas descritas.
Após
a leitura, as ilustrações do livro foram apresentadas. Trata-se de uma linha com
desenhos abstratos que se encontra de forma contínua em todas as páginas do
livro.
Durante
o encontro aconteceu o lançamento de dois livros. O primeiro, Mídia, narrativa
e estilo (literatura, cinema, videoclipe e telejornal), dos autores João Paulo
Hergesel (Mestre formado pelo PPGCC – Uniso) e Míriam Cristina Carlos Silva (docente
do PPGCC – Uniso). A obra é uma compilação de estudos sobre narrativas
produzidas em diferentes mídias e com seus estilos particulares.
O
segundo, Comunicação, arte e culturas: (re) leituras e (re) flexões, de autoria
de Míriam Cristina Carlos Silva e Paulo Celso da Silva. Os textos que
constituem a obra foram elaborados pelos docentes do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação e Cultura, enquanto ministravam conjuntamente a disciplina Comunicação,
cultura e arte. O livro aborda conceitos desenvolvidos por pensadores como Ciro
Marcondes Filho, Vilém Flusser, Michel Serres, Philadelpho Menezes, Oswald de
Andrade, entre outros.
Encerramos
o ano de 2018 carregando as narrativas que nos afetaram, as experiências que
nos transformaram e as pontes que permitiram as travessias (cada um a sua
maneira) sobre os abismos que nos circundam.
Por Vanessa Heidemann
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