Relato do Cinepós: “Representações Poéticas da Morte nas Narrativas Midiáticas: a novela Velho Chico”
Por Vanessa Heidemann
"Assim, as narrativas poéticas podem transformar seu público. Mesmo quando ocorre o incômodo perante uma cena, isso significa que, de alguma maneira, a narrativa afetou o telespectador".
Aconteceu na sexta feira, dia 24 de agosto de 2018, mais um
encontro do Cinepós na Universidade de Sorocaba (Uniso).
O projeto idealizado pelos docentes do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Profa. Dra. Maria Ogécia
Drigo, Profa. Dra. Míriam Cristina Carlos Silva e Prof. Dr. José Rodrigo
Paulino Fontanari busca construir uma relação com a comunidade, divulgando
pesquisas para além dos muros acadêmicos.
O encontro contou com
a participação da Profa. Dra. Míriam Cristina Carlos Silva e da aluna do curso de Jornalismo da
Universidade de Sorocaba, Bruna Emy Camargo.
Intitulado: “Representações Poéticas da Morte nas Narrativas
Midiáticas: a novela Velho Chico”, o encontro foi um retorno à comunidade sobre
a pesquisa realizada durante a Iniciação Cientifica de Bruna, que contou com a
orientação da Profa. Dra. Míriam.
Exibida em 2016, a novela Velho Chico foi considerada um marco na teledramaturgia da televisão brasileira. Apesar do ibope demonstrar que a produção não agradou o público, a linguagem híbrida utilizada na novela, mesclando cultura popular e erudita, teatro, cinema e televisão promoveu seu destaque.
Exibida em 2016, a novela Velho Chico foi considerada um marco na teledramaturgia da televisão brasileira. Apesar do ibope demonstrar que a produção não agradou o público, a linguagem híbrida utilizada na novela, mesclando cultura popular e erudita, teatro, cinema e televisão promoveu seu destaque.
Possuindo como eixo temático central o ódio entre duas
famílias, que se desenvolve durante três gerações, a novela também abordou o
amor proibido e teceu críticas sociais.
A saga com características atemporais abordava temas
relacionados ao contemporâneo. Sua fotografia e figurino não permitiam ao
público distinguir em que época a história se desenvolvia. Sem um tempo
determinado, ela insere-se no tempo do mundo fantástico.
Para conseguir características que deixassem a época da
história indeterminada, a produção da novela oferecia oficinas aos moradores
das cidades onde as gravações ocorreriam ao redor do rio São Francisco. As
oficinas possuíam como intenção arrecadar vestimentas dos moradores e
customizá-las para as personagens da novela.
Segundo a Prof. Dra. Míriam utilizar as vestimentas da
população ajudou a construir a mescla de sensação entre passado e presente,
fazendo com que os telespectadores se perguntassem sobre a época da história.
Carregada de símbolos, até as roupas possuíam cores específicas
para cada personagem. Assim, personagens do núcleo mais abastados usavam cores
diferentes dos personagens que eram subalternos.
A partir dos conceitos sobre a morte, narrativas e o poético
a pesquisa abordou de que maneira a morte dos personagens foi retratada no
decorrer da saga.
O primeiro levantamento sobre as mortes dos personagens foi
realizado pela aluna Bruna, que acessando a internet
e o portal da Rede Globo (canal que produziu e transmitiu a novela) descobriu
que dos 38 personagens considerados fixos, oito perderam suas vidas na trama.
Mostrando as cenas das mortes, o público presente interagiu
com as convidadas demonstrando que as cenas comovem e muitas vezes incomodam, pois
foram elaboradas propositalmente com alta dramaticidade e poeticidade.
Em todas as cenas em que os personagens morrem é possível
observar símbolos que remetem à morte, como animais considerados de mau agouro,
músicas e objetos. Não passou
despercebida a relação da morte entre ficção e realidade pelos participantes do
encontro, pois as mortes dos atores da novela foram lembradas.
O ator Umberto
Magnani Netto, que interpretava o padre Benício, se sentiu mal durante as
gravações e veio a óbito posteriormente, em decorrência de um acidente vascular
encefálico hemorrágico. E a morte do ator Domingos Montagner, que interpretava
o personagem Santo dos Anjos. Domingos, que faleceu ao desaparecer nas águas do
rio São Francisco, levantou questionamentos entre o público presente, já que a
semelhança de sua morte com a história de seu personagem é evidente.
A morte dos atores, principalmente de Montagner, tornou-se
tabu na época, levando o público da novela a criar várias explicações de como
certos assuntos, talvez não devam ser abordados pela ficção.
Durante a fala das convidadas evidenciou-se que a novela por
toda sua poeticidade pode promover camadas distintas de interpretação, sendo
alternada conforme a compreensão simbólica de cada indivíduo. Assim, as
narrativas poéticas podem transformar seu público. Mesmo quando ocorre o incômodo
perante uma cena, isso significa que, de alguma maneira, a narrativa afetou o
telespectador.
Como não conseguimos compreender a morte, pois não sabemos o
que acontece após o morrer, as pesquisadoras entendem que: “Para narrar o
inenarrável resta apenas a metáfora, o simbólico, o mítico e o poético”, como
foi observado na novela O Velho Chico.
O Cinepós terá um novo encontro em outubro, informações como data,
horário e local serão divulgadas pela Universidade de Sorocaba por meio das redes sociais.
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