Relato do primeiro encontro do Cinepós e do NAMI IJ

"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente."
Oswald de Andrade

Possuindo como proposta criar um movimento de integração entre ensino, pesquisa e extensão, o primeiro encontro do Projeto Cinepós, vinculado a Universidade de Sorocaba, aconteceu no dia 24 de abril de 2018. O Cinepós é idealizado e organizado pelos docentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Profa. Dra. Maria Ogécia Drigo, Profa. Dra. Míriam Cristina Carlos Silva e Prof. Dr. José Rodrigo Paulino Fontanari, e consiste em desenvolver pesquisas sobre cinema e audiovisual para além das fronteiras da pós-graduação.
O tema do primeiro encontro foi “A TV mais feliz do Brasil invade o cinema: estratégias fílmicas sbtistas” que apresentou o percurso do SBT nas atividades cinematográficas e promoveu um diálogo sobre o longa-metragem Meus 15 anos (direção de Caroline Fiorati, 2017).
O encontro contou com a fala de João Paulo Hergesel, doutorando em Comunicação, pela Universidade Anhembi Morumbi, graduado em Letras e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba. João Paulo é autor de livros como Estilística aplicada à websérie (Editora Novas Edições Acadêmicas, 2015) e Estilística cibernética (Editora Penalux, 2013), sua produção literária ultrapassa o universo acadêmico em obras de ficção como Nectarinas (Editora Jogo de Palavras, 2018), Pode beijar a noiva (Editora Jogo de Palavras, 2018) e em obras de literatura infantojuvenil como Beijos de chocolate branco (Editora Jogo de Palavras, 2018) e Como calar a boca de um dragão (Editora Jogo de Palavras, 2017).
A responsável pela fala de abertura, a Profa. Dra. Míriam Cristina Carlos Silva, apresentou o convidado aos presentes e explicou a proposta do Projeto Cinepós. Elucidou ainda que concomitantemente ao Cinepós, aquele também seria o primeiro encontro do Grupo de Estudos em Narrativas Midiáticas Infantis e Juvenis (NAMI-IJ). O grupo liderado por ela e pelo convidado surgiu após os pesquisadores perceberam um déficit nas pesquisas realizadas em torno das narrativas produzidas para esse público.
João Paulo inicia sua fala compartilhando um pouco de sua trajetória desde a graduação em Letras e o mestrado em Comunicação e Cultura na Universidade de Sorocaba, até seu interesse pelo Sistema Brasileiro de Televisão, popularmente conhecido como SBT. Compartilha as agruras enfrentadas por ele por possuir como objeto de estudo a emissora e suas produções, pois suas pesquisas recebem olhares de estranhamento, já que parte da academia demonstra um certo preconceito em relação a esses temas.
Seguindo com uma breve história do SBT, João Paulo destaca a história de Silvio Santos e sua perspicácia ao inovar em modelos de negócios desde a época em que era camelô. Elucida que a televisão inicialmente era compreendida, no Brasil, como uma “oitava arte”, ou seja, uma nova maneira de levar à população a cultura, em um sentido elitizado. Foi Silvio Santos, na contramão
Silvio Santos em seu programa no SBT
dessa vertente, que busca instituir na televisão o melodrama e o grotesco. Para desenvolver e divulgar seus negócios, como o Baú da Felicidade, ele utiliza a mídia televisiva e se torna bastante popular em pouco tempo.
As vontades do dono do SBT, sempre intervieram diretamente na emissora. João Paulo enfatiza que Senor Abravanel se transforma em um personagem quando adota o novo nome, Silvio Santos. Com seu carisma e grande capacidade de se reinventar consegue conquistar grande audiência, incomodando seus concorrentes.
As produções fílmicas do SBT começaram em 2005 com o filme Coisa de Mulher, a produção não alcançou o sucesso almejado. Em 2015, Carrossel: O Filme é lançado e obtém um bom retorno do público, no ano seguinte Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina também propicia um retorno satisfatório do público. Lançado em 2017, Meus 15 anos: O Filme, inspirado no livro homônimo da autora Luiza Trigo (editora Rocco, 2014) e sob a direção de Caroline Fioratti, narra a história de Bia (Larissa Manoela), uma adolescente tímida e nada popular que vê sua vida mudar após ganhar uma festa de debutante.
Filme Meus 15 Anos, cena do baile
Após a reprodução de algumas cenas do filme Meus 15 anos, foi aberto um diálogo entre os presentes onde o palestrante convidado apontou para a estilística utilizada na produção cinematográfica, como por exemplo, o constante uso da cor azul, presente também em vários programas do SBT. Após algumas análises o diálogo caminhou para a questão do preconceito que determinados fenômenos culturais sofrem.  Segundo o relato do palestrante, a própria Caroline Fioratti quando confirmada como diretora da produção sofreu uma série de críticas de colegas e do público que conhecia seu trabalho. Caroline se defendeu alegando que esta era uma maneira de passar uma mensagem para as garotas e que dirigir Meus 15 anos possibilitaria atingir um público que não seria possível de outra forma.
Filme a Bela e a Fera
(Direção de Bill Condon, 2017)
O bate papo entre os presentes apontou que apesar de clichê, a produção fílmica possui várias qualidades, desde a construção da narrativa até a fotografia utilizada. Também foi observada uma grande quantidade de referências de outras produções teen, principalmente estadunidense o que suscitou mais uma vez a questão do preconceito que determinados fenômenos comunicacionais sofrem por serem considerados inferiores. O prejulgamento acerca das manifestações populares é recorrente e a valoração da cultura permanece incrustada em várias esferas da nossa sociedade.
Tanto o convidado João Paulo, quanto a professora Míriam ressaltaram a relevância e necessidade de novas pesquisas realizadas no cerne de tais fenômenos comunicacionais, pois eles carregam questões relevantes para a área da Comunicação.

A dissertação de mestrado de João Paulo Hergesel encontra-se disponível no link abaixo para aqueles que gostariam de conhecer um pouco mais de suas pesquisas. 


 Vanessa Heidemann

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