Pesquisadores do NAMI aprofundam reflexão sobre a obra de Eduardo Coutinho


SOROCABA - A segunda reunião do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (NAMI) da Universidade de Sorocaba (Uniso) em 2015 possibilitou aos pesquisadores o aprofundamento das reflexões sobre a obra do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho (1935-2014). Partindo da apreciação de Boca de Lixo (1992), o debate foi alicerçado pelas ideias que integram o texto Mundus Imundus: o imaginário do lixo em três filmes brasileiros, assinado pela Professora Doutora Monica Martinez.

Trata-se de uma obra que provoca o público ao retratar o cotidiano dos catadores de lixo no aterro de São Gonçalo, em Niterói – RJ. São homens, mulheres, crianças e idosos que disputam, em meio ao caos, alimentos, roupas, sapatos e tudo aquilo que possa ser usado como fonte de renda e de sustento. Entre alimentos apodrecidos, que seriam considerados impróprios até para o consumo animal, material hospitalar e outros, a humanização dá o tom às narrativas daqueles sujeitos que, na maioria, se identificam como trabalhadores.

Para a advogada e professora Rachel Alves de Aguiar, mestranda em Comunicação e Cultura pela Uniso, confrontar e debater esse tema é relevante para que se ampliem os olhares sobre as diversas formas de se viver no Brasil. “Personagens ou pessoas, essa visão sem interferência que fora lançada por Coutinho descortina, por meio dos relatos registrados em meio àquele cenário caótico, a multiplicidade, o diferente que existe em qualquer sistema social, seja ele micro ou macro”, explica.

O pesquisador Felipe Parra, também aluno do mestrado em Comunicação e Cultura da Uniso, conta que os debates no grupo ajudam a alargar a percepção de mundo dos participantes. “Minha pesquisa, por exemplo, está em fase de desenvolvimento. Estar atento aos movimentos reflexivos contemporâneos tende a maximizar as possibilidades de construir uma dissertação sólida e útil para a continuidade das investigações científicas que se seguirem”.

Narrativas
Longe de veicular a imagem de vítimas de um sistema político controverso, o documentário tira o expectador da zona de conforto dele ao desvendar as maneiras pelas quais aquelas pessoas se veem. São identidades que vão se revelando pouco a pouco: sonhos, angústias, valores que vão tomando forma à medida em que a câmera deixa de ser um objeto alheio às rotinas no lixão para se tornar o meio pelo qual cada fonte se faz ouvir.

Para a professora doutora Tarcyanie Cajueiro Santos, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso, a temática da alteridade na obra irrompe por meio de imagens cruas e fortes. "Isso é pouco diante do 'saber ouvir' do cineasta, que cria uma atmosfera de proximidade propiciada pela escuta. A distância do que parece ser 'outro mundo' é balizada por pessoas que, ao narrar suas vidas, seus desejos e trajetórias, aparecem como criadoras de um mundo, tão igual e tão diferente do 'nosso'", finaliza.

Texto: Diogo Azoubel
Foto: Willian Welbert

FICHA TÉCNICA
Gênero: Documentário
Diretor: Eduardo Coutino
Duração: 48 minutos
Ano: 1992
País: Brasil
Idioma: Português – BR



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